A adolescência é um período de transição e de mudanças significativas que começa por volta dos doze anos. Adolescer, em latim significa nascer, brotar, crescer, fortificar-se, ultrapassar a idade da tutela e tornar-se maior. Embora transformações e crescimento aconteçam em outros períodos da vida, na adolescência isto se dá com grande intensidade. É uma fase marcada por muitos conflitos: o corpo, os interesses, os valores, os relacionamentos e os desejos se transformam e o adolescente tem a tarefa de se acostumar e se apropriar de todas estas mudanças, que ocorrem em um curto período de tempo.

Nesta passagem do mundo infantil para o mundo adulto, se torna necessário fazer escolhas pessoais e profissionais importantes, pensar em projetos futuros e desenvolver a autonomia. O adolescente sente de forma intensa todas essas demandas da sociedade e isso pode gerar angústia, sentimento de solidão, dúvidas e reações explosivas.

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Nesta busca por um lugar no mundo, testam os outros e a si mesmos e é de extrema importância ter por perto adultos de referência que possam acompanhar, proteger e auxiliar o jovem a entender e a lidar com estas inseguranças e mudanças.

As dificuldades desta fase se tornam ainda mais intensas quando se trata da realidade dos adolescentes que moram em serviços de acolhimento, de onde, por lei, devem se desligar ao completar 18 anos. No Brasil, salvo as Repúblicas Jovens, não há políticas públicas destinadas a este grupo específico. Existe uma expectativa de que, ao completar 18 anos, o jovem tenha a autonomia necessária para dar conta de si, encontrar moradia, trabalhar e pagar suas contas.

Acompanhar os adolescentes na reflexão sobre a própria história e na construção de seus projetos de vida durante o período de acolhimento e na transição para a vida fora da instituição possibilita um processo com o apoio necessário, menos angustiante e solitário. A construção da autonomia é algo contínuo e é fundamental que alguém auxilie seu exercício desde a entrada no serviço de acolhimento, levando sempre em conta as capacidades e o tempo de cada um.

Ter um adulto de referência nos momentos de insegurança e dúvidas ajuda na tomada de decisões pautadas em reflexão e planejamento, fortalece o sentimento de pertencimento, o desenvolvimento de autoconhecimento e a possibilidade da construção de projetos potentes para a própria vida.

Essa relação entre adolescente e adulto de referência é banhada de afeto e desafios; permite a discussão de questões difíceis e vivências intensas, boas e ruins. O mais importante é que o adolescente, muitas vezes marcado por relações rompidas, tenha com quem contar sem prazo de validade, confiando na permanência e força dessa relação para trilhar seus caminhos com o suporte necessário.

Quer saber mais? Leia as publicações do Grupo nÓs e do Apadrinhamento Afetivo.

*texto baseado na publicação do Instituto Fazendo História “Adolescentes em transição: o trabalho de preparação para a vida autônoma, fora das instituições de acolhimento”