Nesse mês de março o Instituto Fazendo História em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP realizou oficinas nas cidades de Guarulhos e Campinas com o tema “Transições no acolhimento: chegadas e partidas”. O evento faz parte de um ciclo de oficinas que ocorrem mensalmente em Guarulhos e Campinas e acontecerão até o final de 2023.

Para a explanação do tema tivemos Lara Naddeo, que é psicóloga pela PUC-SP, mestre em intervenção psicossocial e atua há 10 anos no universo do acolhimento de crianças e adolescentes, sendo co-autora do Guia de Acolhimento Familiar e consultora de projetos na área do acolhimento e adoção; e Adriana Pinheiro, assistente social, especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, Políticas Públicas e Direitos Sociais, e em Instrumentalidade do Serviço Social. Atuou como assistente social e coordenadora de um Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora por 20 anos. Atualmente é membro do Observatório da Infância e Adolescência (OIA) do Núcleo de Políticas Públicas (NEPP) da Unicamp.

Lara iniciou sua apresentação relacionando os conceitos vínculo, apego e despedidas com o tema acolhimento. Pontuou que o acolhimento acontece após um rompimento, em sua maioria brusco e violento, e a criança/adolescente tem de se adaptar a uma nova realidade, o que lhe exigirá um processo de luto. Explorou o tema luto, saindo da concepção de que ele apenas acontece quando há a morte, e salientando que é a reação à perda de um vínculo, de algo conhecido e é um processo de adaptação e reorganização após a perda.

Diante disso, e considerando que todas as crianças e adolescentes que estão em situação de acolhimento passaram por um rompimento e preferencialmente também se despedirão do serviço de acolhimento ou de sua família acolhedora, Lara diferenciou o processo de separação da ruptura, sendo o primeiro gradual, cuidado, narrado e com espaços de acolhimento para o sofrimento, e o segundo violento, traumático, não nomeado e sem espaço para legitimar o afeto e o desejo de quem por ele passa.

Lara refletiu com as/os participantes da oficina – trabalhadoras/es de serviços de acolhimento e da rede socioassistencial no geral – a importância de cuidar do momento da chegada e da saída do/a acolhido/a, que precisa de afeto e segurança para apropriar-se de sua história e elaborar suas despedidas.

Posteriormente, Adriana deu continuidade ao tema trazendo estratégias de atuação frente às transições das crianças/adolescentes acolhidos. Falou sobre o que a equipe do acolhimento pode utilizar para acolher a chegada da criança/adolescente e também para preparar a saída do serviço.

Dentre as sugestões, citou o cuidado, afeto e tempo necessário – escuta sensível e atenta; a importância de reunir informações sobre rotinas, hábitos e necessidades para minimizar o impacto da mudança, e também refletiu sobre a necessidade de contato com a família de origem logo após o ingresso da criança/adolescente no serviço, a fim de acolher os sentimentos da família e promover o trabalho de manutenção de vínculos.

No segundo momento da oficina, as/os participantes assistiram ao vídeo “Removida”, que narra a história de uma dupla de irmãos que foram separados de sua família e foram morar com uma família acolhedora mostrando os desafios de se adaptarem e de se abrirem para novos vínculos, tendo em vista o sofrimento pela separação de sua família de origem. Após o vídeo, foram divididos em grupos menores para pensar na atuação dos profissionais da rede de garantia de direitos frente à situação dos irmãos – quais seriam as ações que realizariam.

Após assistirem à construção de cada grupo, as especialistas dialogaram com as/os participantes da oficina, respondendo às perguntas e considerações trazidas acerca da temática.


Confira o vídeo com com a oficina completa: https://youtu.be/kfpfW9unlqE