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Instituto Fazendo História disponibiliza metodologia de trabalho sobre acolhimento de adolescentes

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Instituto Fazendo História disponibiliza metodologia de trabalho sobre acolhimento de adolescentes

Com muito orgulho e satisfação, o Instituto Fazendo História apresenta mais uma metodologia de trabalho sistematizada. Dessa vez, é o Grupo nÓs que, a partir de agora, disponibiliza sua publicação a todos que queiram saber mais sobre o contexto do acolhimento de adolescentes e desenvolver novas estratégias de trabalho.

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O Grupo nÓs tem a finalidade de estudar a especificidade do acolhimento de adolescentes e criar estratégias de intervenção que apoiem cada um deles no processo de transição para a vida fora das instituições, facilitando a construção e fortalecimento de redes de pertencimento (sociais, familiares, culturais e comunitárias) e de projetos de vida que façam sentido em suas trajetórias. O trabalho é realizado diretamente com os adolescentes e com os adultos responsáveis por eles, antes e após a saída do acolhimento, desenvolvendo um trabalho técnico que colabore para o enfrentamento dos desafios de construção de uma vida autônoma. 

Esse texto foi escrito pelo desejo dos profissionais do Grupo nÓs de compartilhar com os trabalhadores e estudiosos da área as reflexões, experiências e práticas construídas, avaliadas e reconstruídas desde 2011. A finalidade de tornar público este projeto é apresentar um trabalho em desenvolvimento que sirva de inspiração para novas e melhores estratégias e políticas de garantia do exercício dos direitos dos adolescentes que vivem a transição do acolhimento para a vida autônoma.

Para ter acesso à publicação e fazer o download, clique aqui.

 

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Instituto Fazendo História inicia projeto de família acolhedora na cidade de SP

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Instituto Fazendo História inicia projeto de família acolhedora na cidade de SP

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O Instituto Fazendo História iniciou uma nova modalidade de acolhimento, pioneira na cidade de São Paulo, o “Famílias Acolhedoras”. Nesse serviço, crianças de até dois anos de idade que precisam de acolhimento provisório, são acolhidos por famílias selecionadas, formadas e supervisionadas para exercer esse papel temporariamente.

Atualmente, duas famílias fazem parte do programa e estão acolhendo crianças em suas casas. Outras cinco famílias já estão prontas para iniciar o acolhimento. Nos meses de julho e agosto, serão realizadas novas reuniões de apresentação e o início de um novo processo de formação para as famílias selecionadas.

“Garantir a permanência dos bebês em um ambiente familiar tem se mostrado uma estratégia mais eficaz para o bem cuidar do que as instituições. Hoje, existe uma Campanha Mundial pela não institucionalização dos bebês da qual o Instituto Fazendo História participa ativa, política e também praticamente, ao propor este projeto na cidade de São Paulo”, diz Isabel Penteado, coordenadora geral do Instituto.

As experiências vividas por uma criança nos seus primeiros anos de vida deixam marcas e influenciam de forma significativa o seu desenvolvimento. Pesquisas apontam que para cada ano vivido em uma instituição, uma criança perde cerca de 4 meses de desenvolvimento. Por isso, o Instituto desenvolve seu serviço de acolhimento familiar focado na primeiríssima infância e tentar fazer com que essa modalidade torne-se um modelo prioritário de acolhimento no Brasil.

“O envolvimento no projeto vai muito além dos cuidados diários com o bebê. Sua história está sendo cuidada de forma criteriosa, cheia de respeito e atenção. Participar deste processo e fazer parte de sua história de vida torna nosso ato ainda mais gratificante”, conclui Márcia, uma das famílias acolhedoras acompanhadas pelo Instituto.

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OFICINA: “Ritos de passagem: Chegadas e despedidas"

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OFICINA: “Ritos de passagem: Chegadas e despedidas"

No dia 20/06/15, foi realizada no Colméia, a Oficina: “Ritos de passagem: Chegadas e Despedidas, com a participação das especialistas: Gabriela Caselatto e Bianca Maidlinger. Gabriela é psicóloga, mestre em adoção, doutora em abandono. Atualmente é supervisora clínica do Programa Contato do Instituto Fazendo História. Bianca Maidlinger é formada em pedagogia Waldorf, e dedica-se a estudos e práticas da Pedagogia de Emergência.

Gabriela iniciou o encontro. Quando pensamos nas crianças e adolescentes acolhidos, o que imaginamos? Aspectos como abandono, negligência, maus tratos, violência sexual entre outros, são motivos para o acolhimento.

Segundo Gabriela, o abandono é um aspecto de difícil definição. Só é possível ser descrito à partir da própria vivência de quem já foi abandonado. Gabriela contextualizou o acolhimento na perspectiva das crianças e adolescentes, como “eles não estão lá porque querem”, foram tirados de suas famílias, de suas escolas, de toda a sua rotina, das pessoas com as quais tinham vínculos. Neste momento, Gabriela propôs uma dinâmica para o grupo, na qual todos os participantes deveriam escolher um objeto de valor significativo e depositá-lo em uma caixa no centro da sala, quefoi retirada da sala repentinamente. Gabriela perguntou ao grupo como estavam se sentindo, e o grupo relatou: dúvida, dor, raiva, tristeza, curiosidade, angústia, coração disparado e etc. Neste momento, Gabriela perguntou o motivo pelo qual elegeram este objeto para a atividade, e de um modo geral, o grupo relatou ter escolhido um objeto de muito valor pessoal. Gabriela apontou para o fato de reconhecer o que é importante para o outro, além da empatia com relação às emoções das crianças e adolescentes ao chegarem aos serviços de acolhimento.     

Muitas vezes, as perdas vividas pelas crianças e adolescentes geraram grande dor e instabilidade emocional. A segurança é um dos aspectos fundamentais para o desenvolvimento emocional saudável, e a sua ausência pode gerar grandes dificuldades de desenvolvimento de vínculos de confiança, entre outras questões psíquicas bem importantes.

O que é abandono?

Abandono é a privação do vínculo afetivo, cuidados maternos, proteção e conforto daquele que responde às necessidades básicas. A segurança pode representar algo conhecido, por isso crianças que apanham todos os dias tem este referencial, e apesar de não ser saudável apanhar, é algo conhecido que muitas vezes se torna uma forma de demonstrar afeto. Se esta criança passa a não reconhecer mais esta dinâmica, passa a ficar insegura, pois não tem controle da situação e não reconhecer o que é conhecido, habitual.

As privações parciais ou totais de afeto, causadas por rupturas, insuficiência de interação, descontinuidade e reações de luto, afetam as esferas: emocional, física, cognitiva, comportamental e social.

O luto e suas manifestações

O luto são reações às perdas. No caso das crianças e adolescentes acolhidos, o luto é vivido nos pequenos aspectos como: família, casa, brinquedos, comida, cheiros, hábitos, escola, lugares e etc. As manifestações de luto podem ocorrer de maneira misturada, com sentimentos de raiva, angústia, perda de referência, medo e etc.

As crianças que não se adaptam a algum lugar estão vivendo um processo de luto. A não adaptação pode ser uma forma de reaver o que tinha antes. Ainda sobre o luto, Gabriela trouxe mais elementos para identifica-lo, muitas vezes “velado” por outras emoções, como por exemplo:

  • Raiva – Luto

  • Desinteresse – Insegurança

  • Desprezo – medo do abandono e rejeição

  • Ansiedade – Dificuldade de adaptação ao novo

  • Recusa do cuidado e do afeto – desejo de segurança e controle

Muitas vezes, as crianças não conseguem identificar e reconhecer suas emoções e, por vezes, podem utilizar de mecanismos de manipulação para obter satisfação imediata, apresentando baixa tolerância à frustração e tendendo a recriar vivências de rupturas, confirmando a crença de que não é possível confiar novamente.

Ao chegar ao abrigo, a criança/adolescente está insegura (o) e em alerta, como uma tentativa de se proteger e se preparar para o pior, com medo de que uma nova ruptura, um novo abandono aconteça. Neste sentido, é possível identificar alguns comportamentos nas crianças mais “pegajosas”, como o desejo pelo controle e tentativa de evitar novo abandono, enquanto outras crianças/adolescentes utilizam o desprezo como forma de manter um distanciamento seguro a fim de evitar novas rupturas. O medo de que elas aconteçam novamente está presente nas duas formas de interação.

As crianças “boazinhas” tentam garantir a aceitação. As crianças que fazem parte de famílias presentes fisicamente, mas distantes emocionalmente, tendem a serem “grudentas”, enquanto que as crianças que vivenciaram rupturas definitivas tendem a desprezar as relações e se isolar.

O que é melhor? A criança ser criada na instituição ou viver com sua família mesmo que esta não tenha condições de prover-lhe um cuidado adequado?

“Independentemente de permanecer muito ou pouco tempo em um lar substituto, as crianças precisam ser ajudadas a encontrar formas satisfatórias de viver e se tornar inteiros” (Wilgocki e Wright , 2002).

É fundamental que as equipes possam acolher as crianças e adolescentes e realizar a leitura dos casos, compreendendo individualmente as histórias, considerando a idade, histórico familiar, relação com a família de origem, e manifestações emocionais de cada criança e adolescente, a fim de proporcionar novas possibilidades de desenvolvimento de vínculos e afeto. Desta forma, o adulto deve demonstrar: aceitação, curiosidade, interesse, empatia, afeto, divertimento na relação com a criança, disponibilidade para realizar leitura nas entrelinhas, respeitar os limites das crianças. A informação e a verdade são fundamentais no cuidado com crianças e adolescentes. Mentir para evitar sofrimento das crianças e adolescentes só prejudica ainda mais as possibilidades de aceitação e elaboração das experiências de cada um.

As famílias possuem funções fundamentais para o desenvolvimento das crianças e adolescentes, tais como: reprodução, cuidados físicos e emocionais, identificação, socialização, educação e sustento. No contexto do acolhimento, os adultos: educadores e técnicos acabam por exercer grande parte das funções familiares. Apesar de ser uma medida provisória, implica no estabelecimento de relações de afeto, o que é um grande tabu para os profissionais do acolhimento, que muitas vezes acreditam que o trabalho não deve envolver emoções. Neste sentido, Gabriela reforça o fato de que os cuidadores precisam ser cuidados, para que possam sentir-se confortáveis e seguros em suas práticas profissionais.

O que é Pedagogia de Emergência?

Após a fala da Gabriela Casellato, Bianca inicia sua fala, apresentando brevemente a pedagogia Waldorf e contextualizando a Pedagogia de Emergência, criada em 2006. Segundo Bianca, Pedagogia de Emergência são intervenções realizadas antes da instalação do trauma. Os traumas são considerados como vivências emocionais muito estressantes, tais como: maus tratos, abuso, guerra, desastres naturais, que dependem da intensidade, duração, idade, contexto e rede social disponível no momento. O apoio familiar é um fator muito importante de proteção ao trauma, especialmente em situações de guerra.

As fases de intervenções são: Aguda (até dois dias após o acontecimento de uma situação traumática), estresse pós-traumático (até uma semana após a situação traumática), distúrbios pós-trauma e mudança permanente. As intervenções são realizadas até 8 semanas após o fato, pois entende-se que ainda é possível reverter a situação traumática.

Luto X Trauma

Segundo Bianca, todo trauma acompanha um luto, uma perda. Nem sempre o luto está relacionado ao trauma, mas à possibilidade de despedida. O luto está mais relacionado a rupturas e separações, e pode apresentar-se com desânimo aparente, raiva, no qual falar a respeito pode aliviar. O trauma está relacionado à maus tratos, abuso, guerra e desastres naturais. Todo trauma acompanha um luto. Ao vivenciarmos situações traumáticas, os sentidos ficam comprometidos, por isso, a metodologia de intervenção da pedagogia da emergência contempla atividades como: jogos cooperativos, atividades com equilíbrio, ritmos, aquarela, música, dança, argila e contação de histórias, como possibilidade de elaboração das vivências traumáticas

Na concepção da pedagogia da emergência, as crianças “traumatizadas” são portadoras de necessidades especiais, pois interferem diretamente em aspectos físicos e psicológicos, e necessitam de um cuidado diferenciado.

A partir do momento em que o trauma já está instalado, no contexto do acolhimento, é importante considerar as experiências e possibilidades de futuro. A fim de apoiar as crianças e adolescentes que vivenciaram situações traumáticas, é fundamental que as equipes possam atuar em três dimensões: psicológica (relacionamento/vínculos com os “cuidadores”), vital (rotina, aniversários, altar para ritualizar despedidas) e física (relacionada a estrutura do local). Acredita-se que a partir de bons vínculos, é possível elaborar traumas relativos à perda de confiança e investimento no afeto, assim como espaços de verbalização e realização de práticas e rituais que permitam externalizar emoções, bem como um espaço físico acolhedor e cuidado, favorecem a elaboração de traumas. Clareza, transparência e estética curam.

As questões trazidas às especialistas foram:

  • Como trabalhar as histórias de vida das crianças com os educadores, partindo do pressuposto que deve haver sigilo, e muitas vezes os mesmos não estão preparados para cuidar adequadamente das histórias?

  • Como falar a verdade sobre os motivos do acolhimento, para as crianças pequenas?

  • Como lidar com as crianças que vão permanecendo nos SAICAs, sem perspectiva de reintegração familiar e/ou adoção? E como lidar com os retornos das adoções que não deram certo?

  • Como lidar com a angústia da equipe com relação ao desacolhimento e a forma como as crianças serão cuidadas?

  • Como facilitar os vínculos com os adolescentes?

Com relação ao trabalho das histórias de vida com as equipes, é importante reconhecer que nunca haverá coesão sobre a forma de conduzir e lidar com as questões e com as histórias de vida, isso porque as histórias das crianças muitas vezes refletem em suas próprias histórias e limites. É fundamental que as equipes possam reconhecer e respeitar seus limites, e a partir disso poder apoiar uns aos outros. No entanto, profissionais que fazem uso equivocado das histórias de vida das crianças e adolescentes, precisam de ajuda, pois podem representar que algo vivenciado por ela não foi elaborado.

Com relação às saídas, cada criança evoca dores em quem fica. Os educadores podem apoiar as crianças, legitimando sua dor, e oferecendo espaços de escuta, cuidando para não prometer algo que não possa ser cumprido. Escrever cartas, realizar festas de despedidas, podem ser importantes ferramentas a serem inseridas no cotidiano dos abrigos. Já na chegada das crianças e adolescentes, é importante reconhecer e respeitar os limites de cada um, e oferecer um ambiente acolhedor através do olhar, escuta, tom de voz, toque. A participação de crianças e adolescentes que residem na casa, também é uma estratégia acolhedora para quem chega. Além disso, as características de cada educador devem ser reconhecidas como importantes para o desenvolvimento dos vínculos com as crianças e adolescentes.

O reconhecimento de que as saídas evocam sentimentos em todos que ficam é o primeiro passo para validar e dar a oportunidade de se falar sobre o assunto. Assim como nas chegadas, as despedidas podem ser cuidadas a partir de rituais que possam favorecer novos referenciais de despedidas para as crianças e adolescentes. Para as crianças é muito importante reconhecer nos adultos suas emoções, mas muitas vezes a equipe tenta não demonstrar fragilidade, desvalidando as emoções vivenciadas.

Sobre as devoluções nos casos de adoções que não deram certo, não é fácil re-editar o abandono. Porém, muitas vezes não se sabe os motivos, o que se sabe é que no processo de adoção, tanto a família quanto a criança, receiam a rejeição. Para as crianças devolvidas, é fundamental acolhê-las, e mais uma vez promover espaços de escuta e expressão de seus sentimentos. É fundamental que a equipe possa oferecer um ambiente físico e emocional seguros para que as crianças possam cuidar de suas rupturas e abandono, e não espaços que potencializam a fragilidades e incertezas.

Com os adolescentes, os vínculos devem ser realizados a partir de uma base segura, na qual eles possam experimentar e ter vivências e voltar para compartilhá-las. Os adolescentes tendem a testar essa base, e muitas vezes os adultos se ressentem com a mentira e agressividade, o que os leva a entrar no embate com os adolescentes. Os adultos podem ser seguros, firmes, respeitosos e afetivos, desempenhando assim uma autoridade afetiva, que acolhe tanto os acertos quanto os fracassos.

Com relação aos motivos do acolhimento para as crianças pequenas, é importante considerar a capacidade de compreensão de cada idade e tempo de cada criança. Com os bebês, o importante não é o conteúdo verbal, e sim a forma de se relacionar com ele. Na medida em que as crianças vão crescendo, a capacidade de compreender e elaborar suas histórias a partir do lúdico, contação de histórias, experiências cinestésicas, são importantes ferramentas de contato com o mundo. Estas experiências atuais podem reassegurá-los neste novo mundo e na perspectiva de refazerem suas histórias.

Para assistir aos melhores momentos da Oficina, acesse o link:

https://www.youtube.com/watch?v=bztRdm9RLU0

 

 

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