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OFICINA – ESTRATÉGIAS EM SAÚDE MENTAL: MANEJO DA AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA

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OFICINA – ESTRATÉGIAS EM SAÚDE MENTAL: MANEJO DA AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA

No dia 25 de setembro de 2024, o Instituto Fazendo História realizou a décima primeira oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "Estratégias em saúde mental: manejo da agressividade e violência", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Kleber Duarte Barreto, psicólogo e supervisor clínico, que atua como pesquisador e supervisor na área de Acompanhamento Terapêutico (AT) na UNIP, além de coordenar a equipe Prosopon de AT. Desde 2004, ele supervisiona a equipe de AT do CEVAT, do Tribunal de Justiça de São Paulo e é, também, autor do livro “Ética e Técnica no Acompanhamento Terapêutico: andanças com Dom Quixote e Sancho Pança”.

Kleber abre o encontro abordando o quanto é desafiador esse tema do manejo de situações de agressividade e violência junto a adolescentes, que faz parte da rotina daqueles que trabalham nos serviços de acolhimento. Em um primeiro momento, permeado por relatos de experiências de sua prática profissional e pela abertura às questões dos participantes, ele apresentou conceitos básicos para aprofundar o olhar e a reflexão, a partir das ideias dos psicanalistas Donald Winnicott e Gilberto Safra. 

O convidado trouxe a ideia de hospitalidade como uma das condições básicas do ser humano, ligada à experiência de pertencimento, ou seja, temos a necessidade de nos inscrever na subjetividade de alguém, o que vai ganhando complexidade: desde pertencer a um grupo familiar, a uma comunidade, até a uma sociedade e à história da humanidade. Nesse sentido, há casos, quando já se perdeu a esperança de pertencer, em que se usa, como último recurso, a violência. Os comportamentos mais desafiadores de adolescentes, difíceis de suportar porque machucam e despertam ódio, podem se apresentar como formas desesperadas de buscar reconhecimento de que se pertence e está na subjetividade de outra pessoa.

Kleber também indica a agressividade enquanto um aspecto constitutivo do ser humano e que surge a partir da experiência de corporeidade do bebê, no processo de integração da dimensão somática, com a qual se nasce, a uma dimensão psíquica. Aprofundando na teoria de Winnicott, ele discute sobre a experiência de onipotência do bebê e como, à medida que o ambiente vai falhando, o que invariavelmente acontece e é necessário para que ele desenvolva seus recursos psíquicos e mentais, surge a agressividade. É por meio da agressividade que se desenvolve o princípio de realidade: quando tenta-se destruir o outro e o outro sobrevive, o bebê percebe que seu desejo de destrutividade não é tão poderoso assim. O convidado aborda a importância dos adultos sobreviverem a esse ataque e questiona como isso pode se desenrolar no contexto do acolhimento.

Kleber convoca o grupo a pensar como a violência vai ganhando complexidade conforme a criança cresce e tendo efeitos mais drásticos nas relações com o ambiente, despertando naqueles à sua volta sentimentos de raiva e ódio, os quais precisam ter um lugar de reconhecimento pelos profissionais. O ódio das crianças e adolescentes, e também dos adultos, pode se voltar para dentro, atacando o humor, a vitalidade e os vínculos internos, e se constituindo como ressentimento; ou para fora, se direcionando às pessoas de quem mais se gosta e com quem têm experiências de amor: de modo geral, quem mais nos desorganiza, é quem mais amamos. Pode-se viver esse ódio atuando nas relações, ferindo e machucando o outro, ou expressá-lo de outras maneiras, mais simbólicas.

Ele apresenta o serviço de acolhimento enquanto um lugar que deve ofertar experiências de cuidado e convivência às crianças e adolescentes, em um âmbito institucional, reproduzindo situações e relações básicas próprias do funcionamento de uma casa, para que eles se constituam e sigam suas vidas. Estas condições envolvem vivências de conflitos, presença de figuras masculinas e femininas, possibilidades de fantasias de separação e experiências de amor e ódio com uma mesma pessoa, integrando-a na relação. Traz também a relevância de pessoas de referência que sobrevivam, física e psiquicamente, aos ataques de ódio, para que, assim, os adolescentes possam perceber suas histórias de forma mais objetiva, reconhecer que as relações são compostas por coisas boas e ruins, e escolher dentro de possibilidades (não só, repetir). 

O convidado também atenta os profissionais para como a própria experiência de abrigamento é vivida pelos adolescentes como uma violência, que deixa marcas, da mesma forma que é importante reconhecer outras violências que se estabelecem, de modo silencioso, no cotidiano dos serviços e não são compreendidas como tal, tais quais situações de capacitismo, de superproteção e de ausência de limites. Ele aponta como a vivência de rupturas, enfrentamentos e conflitos, que pode envolver gestos de agressividade, é necessária para o amadurecimento do adolescente, e precisa de um ambiente acolhedor e seguro para que seja experienciada. 

Ambiente este no qual, a partir da relação com alguém mais significativo e que tenha sensibilidade para compreender o panorama no qual se deu conflito, o adolescente tenha a possibilidade de acolher em sua subjetividade essa experiência de dor e possa se situar, de maneira mais saudável e simbólica, frente à situação imediata, assim como à sua própria história. Nessa perspectiva, Kleber problematiza o lugar do castigo e da punição como formas de lidar com comportamentos desafiadores, indicando como atuam, muito mais, como tentativas de inibir, do que de transformar. E, como pensar em estratégias de interlocução, de restabelecimento da confiança e de construção de compromissos, nas quais os adolescentes tenham opções de escolha e sejam reconhecidos para além do lugar de desafio, pode ser um caminho muito mais efetivo.

Para ilustrar a ideia da experiência de habitar o coração do outro como transformadora, Kleber apresenta um trecho do documentário “Human”. Na segunda parte do encontro, os participantes se dividiram em grupos para discutir casos do cotidiano nos serviços de acolhimento, envolvendo situações de agressividade e violência com adolescentes, e depois expuseram no grupo maior, com a mediação do convidado.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui

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A formação profissional durante a pandemia - construções e reflexões

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A formação profissional durante a pandemia - construções e reflexões

O Programa Formação do Instituto Fazendo História tem por objetivo contribuir com a qualidade do trabalho dos Serviços de Acolhimento para crianças e adolescentes e para a transformação da lógica caritativo-correcional para a lógica protetiva e emancipadora. Suas estratégias envolvem tanto ações de formação e supervisão voltadas para a equipe de cada Serviço de Acolhimento, como encontros para a rede, ofertando formações temáticas e trocas de experiências.

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O papel do educador nos serviços de acolhimento

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O papel do educador nos serviços de acolhimento

Desde que os serviços de acolhimento deixaram de ser orfanatos, cujo trabalho não existia uma preocupação com a formação integral da criança, o dia-a-dia nessas instituições busca ser o mais parecido possível com o de uma família. E essa nova visão sobre a acolhida de crianças e adolescentes levou logicamente a uma mudança sobre o papel de quem cuida deles. Assim, todo adulto que trabalha com essas crianças é muito mais do que um funcionário, um monitor ou simples instrutor, como já foram chamados. Todos eles são educadores, no sentido mais amplo do termo.

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OFICINA: "Adolescência e Autonomia: a experiência do Grupo Nós"

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OFICINA: "Adolescência e Autonomia: a experiência do Grupo Nós"

No dia 18 de fevereiro de 2017, foi realizada a oficina “Adolescência e Autonomia: A Experiência do Grupo nÓs", que contou com a participação do jovem estudante de artes Willian Jonathan e a equipe do Grupo nÓs, Mahyra Costivelli e Marcelo Melissopoulos...

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Reflexões sobre a rotina dos serviços de acolhimento: "agressividade e limites”

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Reflexões sobre a rotina dos serviços de acolhimento: "agressividade e limites”

O Instituto Fazendo História publica periodicamente situações cotidianas dos serviços de acolhimento, para estimular reflexões e a construção de estratégias a partir de critérios técnicos e não pessoais.

As situações apresentadas fazem parte do kit de Formação “Vamos Abrir a Roda” e abrangem diferentes temáticas: adolescência, bebês, agressividade e limites, histórias de vida, ritos de passagem, entre outras.

Para pensar! O tema das DUAS situações de hoje é: agressividade e limites

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SITUAÇÃO 1

Jonathan (13), Samantha (11) e Adriele (10) foram acolhidos porque a mãe deles não tem moradia fixa e estavam todos morando com ela na rua. Eles não tinham rotina e não vêm conseguindo se adaptar às regras da casa; Não respeitam os horários e quando são obrigados a fazer alguma tarefa xingam os educadores e dizem que com sua mãe não precisavam fazer nada, que preferiam estar com ela e que morar na casa “é muito chato”.

A mudança da cultura da rua para a vida em uma instituição deve ser bastante drástica para qualquer criança ou adolescente. Compreender essa dificuldade de adaptação seria um primeiro passo para qualquer adulto que esteja lidando com eles. Sem dúvida, é ainda necessário construir junto com os meninos e meninas uma maior compreensão de cada regra, dos benefícios que elas podem trazer para a convivência entre todos. Outro ponto importante seria ponderarmos quais regras podem ser alteradas sem grandes problemas para a casa que trariam um senso de respeito e de real acolhimento para quem chega. Por exemplo, se eles comem com as mãos, será que podemos combinar alguns alimentos que eles, com as mãos lavadas, podem ainda comer desta forma? Ou com a colher, ao invés de garfo, se for o desejo deles?

SITUAÇÃO 2

Ricardo (16) já pulou o muro para ir pra a rua diversas vezes e sempre volta. Com essa atitude, ele influencia os outros adolescentes a saírem também, desorganizando o funcionamento casa. Estamos pensando em o que fazer, a convivência com ele tem se tornado inviável.

Os embates entre adultos e adolescentes acontecem nas famílias, nas escolas e também nos serviços de acolhimento. Lidar com estes embates faz parte do cotidiano. Conversas individuais com a figura de melhor contato na casa e assembleias onde outros adolescentes podem falar dos desconfortos com as quebras de combinados podem ser interessantes. Consequências podem aparecer para cada fuga: ele pode voltar para casa, mas fica sem internet ou sem televisão ou precisa ajudar mais na limpeza. A consequência deve ocorrer, mas não a transferência de abrigo, que ao invés de uma atitude educativa, tem mais o caráter de um novo abandono, uma falta de investimento na possibilidade deste menino encontrar um lugar saudável no mundo. É importante também ouvir o desejo do adolescente de ganhar autonomia para sair da casa e de circular no território. Permitir que o adolescente saia, combinando onde ir e quando voltar, pode reduzir a necessidade dele de fugir.

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Fazendo Minha História forma profissionais de Maringá, Paraná, para o trabalho com histórias de vida

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Fazendo Minha História forma profissionais de Maringá, Paraná, para o trabalho com histórias de vida

Um valor fundamental do Instituto Fazendo História é compartilhar conhecimento técnico para que, cada vez mais, serviços de acolhimento e toda a rede envolvida nessa área no Brasil estejam preparados tecnicamente para pensar melhores caminhos e cuidados com as crianças em adolescentes.

Desta vez, o Instituto levou até a cidade de Maringá, no Paraná, o programa Fazendo Minha História. Os profissionais da rede de acolhimento da cidade participarão de 3 seminários de formação onde serão instrumentalizados para que desenvolvam ações de mediação de leitura e construção de álbuns de histórias de vida.

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O 1o seminário, sobre mediação de leitura, aconteceu em setembro e foi muito bem avaliado por todos. A participação nesses encontros permite às equipes dos serviços de acolhimento formar e acompanhar os adultos que realizarão o trabalho com as crianças e adolescentes. Nos próximos meses outros encontros acontecerão e a rede de acolhimento de Maringá estará pronta para continuar desenvolvendo de forma autônoma essa a metodologia de trabalho com historias de vida.

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"Mar de Histórias":  ações de mediação de leitura e outras atividades

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"Mar de Histórias": ações de mediação de leitura e outras atividades

Voltamos a divulgar notícias sobre o projeto “Mar de Histórias”, em desenvolvimento com apoio do MINC e financiamento da Cosmoquímica e Exportadora de Café Guaxupé.

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Desde maio, os serviços de acolhimento participantes vêm se dedicando a pensar e colocar em prática ações regulares de mediação de leitura em sua rotina. Após o 1º seminário, a equipe do FMH visitou cada casa para ajudar a planejar e fortalecer as ações regulares com os livros. Nestas visitas, os técnicos do serviço de acolhimento puderam também esclarecer dúvidas sobre a implementação da metodologia, fortalecendo-se para realizar a gestão do trabalho no dia a dia da casa.

A partir disso, as bibliotecas de cada casa estão sendo montadas; crianças e adolescentes começam a se encantar e valorizar o universo literário; os educadores começam a adotar em sua rotina de trabalho a prática de ler e se relacionar afetivamente com as crianças através de uma boa leitura!   

Paralelamente, os voluntários formados e selecionados para participar do projeto deram início a encontros com os meninos e meninas acolhidos. Através desta relação e do contato prazeroso com os livros, crianças e adolescentes melhoram a compreensão do texto e do mundo, fortalecem seus gostos e preferências, descobrem perguntas e respostas para assuntos da vida, são estimulados a falar de si e de suas histórias, dando novos significados para o vivido no passado e no presente.   

Nos dias 28 e 29 de junho, foi realizado o 2º seminário com os profissionais dos serviços de acolhimento. Seu objetivo foi compartilhar as boas práticas iniciadas em cada abrigo e fortalecer o papel de mediador de leitura entre os participantes, através de novas atividades e reflexões. Neste seminário, retomou-se também o planejamento do “Mar de Histórias”, evento que oferecerá aos frequentadores de algum espaço público próximo ao serviço de acolhimento um contato diferente e descontraído com os livros, através de brincadeiras e mediação de leitura. Trata-se de uma forma de envolver a comunidade, difundir o poder do livro e contribuir com o desenvolvimento do prazer pela leitura. Através de trocas de ideias e de estratégias, cada serviço de acolhimento pôde se inspirar para desenvolver o evento de forma mais envolvente e interessante.

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Notícias do projeto "Mar de Histórias", em desenvolvimento com apoio do MinC: novos serviços de acolhimento

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Notícias do projeto "Mar de Histórias", em desenvolvimento com apoio do MinC: novos serviços de acolhimento

O programa Fazendo Minha História expandiu suas atividades! Sete novos serviços de acolhimento iniciarão o trabalho com histórias de vida. Essa implementação tem apoio do Ministério da Cultura e financiamento das empresas Cosmoquímica e Exportadora de Café Guaxupé.

Nesse mês de junho, as técnicas do programa realizaram a formação inicial para os interessados. 20 voluntários foram formados e já estão prontos para iniciar o trabalho de resgate e registro de histórias de vida e incentivo à leitura com crianças e adolescentes.

Os novos serviços de acolhimento são das cidades de São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Mauá:

Associação São Luiz – São Bernardo do Campo
Lar Escola Municipal de São Caetano do Sul
Abrigo Municipal de Mauá
Lar Sol da Esperança – Mauá
Casa Andança (Fundação Criança) – São Bernardo do Campo
Casa Raio de Sol (Fundação Criança) – São Bernardo do Campo
Casa Arco-íris (Fundação Criança) – São Bernardo do Campo

 

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