O livro Histórias Cruzadas surgiu quando o Instituto Fazendo História, após trabalhar por muitos anos diretamente com acolhimento, deparou-se com uma grave situação: o retorno para o serviço de acolhimento de crianças ou adolescentes que tinham sido adotados. A frequência com que isso acontece revela que há casos em que pais e filhos não estão prontos para a construção de uma nova família, reforçando a necessidade de espaços de apoio para todos os envolvidos, tanto antes quanto depois da adoção.
A publicação pretende difundir a metodologia utilizada no Histórias Cruzadas, que foi um programa desenvolvido pelo Instituto Fazendo História, dar visibilidade à necessidade de espaços de apoio como esses e possibilitar sua multiplicação por profissionais e grupos de apoio que atuam no contexto da adoção.
Pesquisas e estudos no campo da psicanálise mostram que mais do que os fatos reais vividos, são as palavras utilizadas pelos adultos e, principalmente a forma como eles
significam os fatos reais que determinam as marcas psíquicas que a criança terá sobre determinado evento (Paiva, 2004). Dessa forma, a medida do acolhimento pode ser
reparadora, ao contrário do estigma de experiência ruim, quando ajuda uma criança ou adolescente a encontrar palavras que deem sentido ao que viveu, sem desqualificar suas
raízes familiares, ajudando a reconhecer o afeto que receberam, mesmo que alternado a momentos de negligência ou violência.
É importante lembrar que o acolhimento é uma medida excepcional, temporária e provisória. No entanto, neste período do acolhimento, os meninos e meninas não estão somente à espera de algo: voltar para casa ou conseguir uma nova família. Estão sendo cuidados por adultos, estão vivos e ativos, vivendo alegrias e tristezas, experimentando frustrações, se desenvolvendo e conquistando autonomia. Constroem relações de afeto com os profissionais do serviço de acolhimento, com as outras crianças e adolescentes com as quais moram provisoriamente, com pessoas que fazem parte da comunidade onde estão. Trata-se de um período muito significativo, permeado também por carinho e lembranças. O impacto do afastamento do convívio familiar e de maus tratos no desenvolvimento psíquico das crianças acolhidas pode ser minimizado e até superado durante o acolhimento através das relações com adultos que exercem as funções de cuidado, proteção e estabelecimento de limites.
Na cena da adoção, os pais adotivos e os profissionais que oferecem apoio a eles têm um papel central no desenvolvimento da criança. A forma pela qual os adultos lidam
com os afetos mobilizados pela adoção será determinante para a saúde psíquica da criança adotada e para a maneira pela qual se relacionará com este importante fato
de sua história. O que se fala, o que não se fala, como e quando se fala para a criança sobre sua vida e suas experiências concretas são determinantes para a elaboração
psíquica da adoção ou para que ela seja geradora de conflitos paralisantes, incertezas e inseguranças. Neste sentido, para que o adulto possa ajudar a criança a se relacionar
de forma sadia com sua história, ele próprio precisa de espaço para refletir sobre o assunto, expressar seus sentimentos, angústias e expectativas. O que os pais imaginam
sobre o período do acolhimento e sobre as famílias biológicas, se falam e como falam a respeito, influenciam o desenvolvimento do filho e da relação familiar.
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