O Instituto Fazendo História marcou presença no 2º Encontro Online de Acolhimento Familiar (ENAFAM), que aconteceu nos dias 28, 29 e 30 de setembro.

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No primeiro dia do evento, Lara Naddeo, coordenadora de pesquisa e difusão de conhecimento do IFH mediou o painel O acolhimento de bebês: perfil da família e orientações de cuidado para a promoção do desenvolvimento saudável.

O painel contou com as apresentações de Sara Luvisotto, coordenadora do Serviço de Família Acolhedora do IFH; Shyrlene Brandão, mestre em psicologia clínica e supervisora da equipe do Serviço de Família Acolhedora do Distrito Federal; Julia Salvagni, coordenadora do Serviço de Família Acolhedora e Vice-presidente do Aconchego/DF; e Gabriella Moura, doutora em Psicologia do Desenvolvimento, professora do Departamento de Psicologia Social da Universidade Federal do Espírito Santo.

Lara iniciou o painel pontuando a importância de se pensar sobre quais Serviços se oferece para a primeira infância que precisa ser afastada de sua família de origem no Brasil. Enfatizou ainda que o painel tinha o foco na primeira infância, mas de maneira nenhuma o acolhimento em família acolhedora deve ser oferecido somente para as crianças pequenas, já que ele traz benefícios importantes para todas as faixas etárias. No entanto, pontuou que a primeira infância apresenta características especificas, tanto em termos do desenvolvimento do bebê, até da relação com a família de origem durante o acolhimento, por isso importante lançar luz nessa faixa etária.

Lara afirma que, além disso, se percebe que na sociedade os bebês ainda não são vistos como sujeitos de direitos, com uma história a ser preservada, personalidade e vontades próprias e com necessidade de cuidado singularizado para crescer.

“A primeira infância é o período que compreende a gestação até os 6 primeiros anos de vida da criança. Nos últimos anos, esta fase tem ocupado lugar de destaque em diversas áreas do conhecimento, principalmente pelo entendimento de que as experiências dos primeiros anos influenciam de maneira significativa o desenvolvimento posterior do indivíduo. um período crucial no qual ocorre o desenvolvimento de estruturas e circuitos cerebrais, da constituição do sujeito, bem como a aquisição de capacidades fundamentais que permitirão o aprimoramento de habilidades futuras mais complexas”, afirmou Lara.

Ainda segundo ela, um ponto fundamental desses estudos é estreita relação entre o desenvolvimento cerebral e o vínculo estabelecido entre o bebê e seu ambiente (mais especificamente seus cuidadores) e, por consequência, a influência dessa relação no desenvolvimento do bebê. Por isso a maneira como os cuidados são dispensados aos bebês e crianças pequenas separados de suas famílias merece atenção especial.

“A medida de acolhimento, quando necessária, deve garantir a cada criança e adolescente um ambiente estável, evitando ao máximo transferências, e promover vínculos contínuos e seguro com seus acolhedores, favorecendo o estabelecimento de relações significativas com os adultos enquanto dure a medida”, disse.

Em 2009, as Diretrizes internacionais sobre cuidados alternativos da ONU, apontam o acolhimento familiar como uma importante modalidade de cuidado para crianças em medida de proteção, principalmente aquelas abaixo dos 3 anos. O Brasil segue a discussão internacional e, desde 2009, o acolhimento familiar é determinado, pelo Art. 34 do ECA, como o serviço a ser priorizado sempre que a medida protetiva de afastamento familiar for necessária.

Uma das diretrizes do nosso Plano Nacional pela Primeira Infância é a prevenção da institucionalização de crianças de 0 a 6 anos. E mais recentemente em 2016, o Marco Legal da Primeira Infância estabelece princípios e diretrizes para a formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância em atenção à especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e no desenvolvimento do ser humano.

Em sua fala, Shyrlene Brandão trouxe a importância do cuidado com os bebês que serão entregues desde a gestação, e isso implica cuidar da gestante. O cuidado na entrega do bebê para o acolhimento envolve nomear a separação e valorizar a história desse bebê e de sua família de origem. Escutar e acolher a genitora também é cuidar do bebê.

Julia Salvagni falou sobre a chegada do bebê no SFA, sobre os cuidados e acolhimento inicial necessários, que implica falar com os bebês, explicar onde estão, e apresentar carinhosamente a família acolhedora. Falou também da importância de preparar e acompanhar as famílias acolhedoras para que ofereçam um bom acolhimento, entendendo que nem todos tem o perfil para acolher os pequenos. E salientou que equipe técnica e família acolhedora devem estabelecer uma relação de confiança e parceria.

Sara Luvisotto trouxe o trabalho com os bebês acolhidos e suas famílias de origem, pensando na promoção e no fortalecimento dos vínculos durante o acolhimento e nos processos de reintegração. Também apresentou as estratégias que o Serviço do IFH utiliza no trabalho com os bebês, os álbuns e o registro da história de vida de cada bebê.

E por fim, Gabriella Moura apresentou sua pesquisa sobre as interações bebês/adultos no acolhimento institucional e familiar, e das diferenças que encontrou em seus estudos, falou sobre as necessidades do bebê de que conversem com ele, interajam com carinho, toquem seu corpo de forma amorosa, brinquem com ele. Terminou sua fala dizendo que ao que tudo indica o ambiente familiar propicia maior interação entre adulto e bebê, do que o ambiente institucional, no ambiente familiar o adulto cuidador se sente mais autoriza em estabelecer uma relação de afeto e proximidade com o bebê.

Ao final do painel as profissionais discutiram sobre a ideia do vinculo e do afeto serem estratégias de trabalho no Serviço de Família Acolhedora, sem perder o foco de que a formação da equipe, uma metodologia bem estruturada e um bom acompanhamento das famílias acolhedoras é fundamental para garantir um trabalho de qualidade.

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