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Reflexões sobre a rotina dos serviços de acolhimento: "agressividade e limites”

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Reflexões sobre a rotina dos serviços de acolhimento: "agressividade e limites”

O Instituto Fazendo História publica periodicamente situações cotidianas dos serviços de acolhimento, para estimular reflexões e a construção de estratégias a partir de critérios técnicos e não pessoais.

As situações apresentadas fazem parte do kit de Formação “Vamos Abrir a Roda” e abrangem diferentes temáticas: adolescência, bebês, agressividade e limites, histórias de vida, ritos de passagem, entre outras.

Para pensar! O tema das DUAS situações de hoje é: agressividade e limites

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SITUAÇÃO 1

Jonathan (13), Samantha (11) e Adriele (10) foram acolhidos porque a mãe deles não tem moradia fixa e estavam todos morando com ela na rua. Eles não tinham rotina e não vêm conseguindo se adaptar às regras da casa; Não respeitam os horários e quando são obrigados a fazer alguma tarefa xingam os educadores e dizem que com sua mãe não precisavam fazer nada, que preferiam estar com ela e que morar na casa “é muito chato”.

A mudança da cultura da rua para a vida em uma instituição deve ser bastante drástica para qualquer criança ou adolescente. Compreender essa dificuldade de adaptação seria um primeiro passo para qualquer adulto que esteja lidando com eles. Sem dúvida, é ainda necessário construir junto com os meninos e meninas uma maior compreensão de cada regra, dos benefícios que elas podem trazer para a convivência entre todos. Outro ponto importante seria ponderarmos quais regras podem ser alteradas sem grandes problemas para a casa que trariam um senso de respeito e de real acolhimento para quem chega. Por exemplo, se eles comem com as mãos, será que podemos combinar alguns alimentos que eles, com as mãos lavadas, podem ainda comer desta forma? Ou com a colher, ao invés de garfo, se for o desejo deles?

SITUAÇÃO 2

Ricardo (16) já pulou o muro para ir pra a rua diversas vezes e sempre volta. Com essa atitude, ele influencia os outros adolescentes a saírem também, desorganizando o funcionamento casa. Estamos pensando em o que fazer, a convivência com ele tem se tornado inviável.

Os embates entre adultos e adolescentes acontecem nas famílias, nas escolas e também nos serviços de acolhimento. Lidar com estes embates faz parte do cotidiano. Conversas individuais com a figura de melhor contato na casa e assembleias onde outros adolescentes podem falar dos desconfortos com as quebras de combinados podem ser interessantes. Consequências podem aparecer para cada fuga: ele pode voltar para casa, mas fica sem internet ou sem televisão ou precisa ajudar mais na limpeza. A consequência deve ocorrer, mas não a transferência de abrigo, que ao invés de uma atitude educativa, tem mais o caráter de um novo abandono, uma falta de investimento na possibilidade deste menino encontrar um lugar saudável no mundo. É importante também ouvir o desejo do adolescente de ganhar autonomia para sair da casa e de circular no território. Permitir que o adolescente saia, combinando onde ir e quando voltar, pode reduzir a necessidade dele de fugir.

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OFICINA: "Todo(a) cuidador(a) deve receber apoio, atenção, formação e ajuda em sua tarefa do bem cuidar"

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OFICINA: "Todo(a) cuidador(a) deve receber apoio, atenção, formação e ajuda em sua tarefa do bem cuidar"

Nos dia 9, 10 e 11 de Novembro, foi realizado o III Seminário Internacional de Qualidade nos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes na Universidade Anhembi Morumbi, sob a organização do NECA, no qual foi realizada uma Oficina intitulada: “Todo cuidador deve receber apoio, atenção, formação e ajuda em sua tarefa do bem cuidar” pelo Instituto Fazendo História. A equipe de formação do Instituto, composta pela coordenadora e técnica do Programa, Tatiana Barile e Fernanda Cocitta foi quem realizou a Oficina.

Tatiana Barile iniciou a Oficina, convidando os participantes a realizarem uma dinâmica de apresentação para mapeamento do grupo. Na ocasião havia 40 participantes, tanto homens quanto mulheres, de cargos bem variados (educadores, técnicos, gestores e presidentes de instituições mantenedoras e SAICAS), com formações variáveis nas áreas humanas e sociais (prevalência por assistentes sociais, psicólogos e pedagogos). Foram identificados participantes oriundos de diversas regiões do país, compondo 9 Estados e mais de 20 Municípios, além de estrangeiros.

Após o primeiro momento de identificação e integração, o grupo participou de uma atividade de design thinking, na qual cada um contribuía com uma palavra que representasse as seguintes questões norteadoras:

– O que é cuidado?

– O que é cuidado com as crianças e adolescentes?

– O que é cuidado com os educadores?

A partir destas questões e das contribuições do grupo, formou-se um grande painel no qual as palavras foram agrupadas, formando um grande diagnóstico sobre o tema cuidado. No que diz respeito ao cuidado, ficou claro que cuidado passa pelo afeto, amor, carinho, estar atento ao outro, respeitar o outro, oferecer suporte, empatia, proteção, singularidade, liberdade, honestidade, encontro e limites. Dentre estas palavras as que tiveram grande destaque foram o amor e atenção, que apareceram muitas vezes.

No que diz respeito aos cuidados com crianças e adolescentes, o grupo trouxe: segurança, compromisso, confiança, direcionamento, compreensão, acolhimento, garantia de direitos, disponibilidade, individualidade, atenção, olhar, colo, desafio, amor, respeito, acolher sem estigmatizar, proteção e referência. Nesta categoria, aspalavras que apareceram com maior frequência foram: proteção, escuta e respeito.

Na categoria de cuidados com educadores, o grupo entende que sentem-se cuidados quando: são escutados, tem o suporte técnico para o acolhimento adequado,  acolhidos e amparados pela equipe técnica e coordenação em seus desafios (suporte), informação e conhecimento, quando são respeitados, possuem apoio, direcionamento, amor, olhar, segurança, formação continuada, capacitação e escuta sendo estas, as palavras que apresentaram grande representatividade nesta categoria.

Após a realização desta atividade inicial, o grupo foi convidado a seguir na Oficina através de 4 grupos que pudessem discutir 4 temas, a partir de aspectos positivos negativos e possíveis estratégias, através da metodologia de world café, na qual todos os participantes teriam a possibilidade de contribuir com todos os temas. Os quatro temas discutido foram:

– Seleção de educadores;

– Organização da rotina;

– Histórias pessoais;

– Reuniões de equipe, formação e supervisão;

SELEÇÃO DE EDUCADORES

No que diz respeito à seleção de educadores, os aspectos negativos foram:

– Falta de profissionais qualificados;

– Falta de critérios na seleção (muitas indicações sem perfil);

– Baixos salários;

– Ausência de plano de carreira;

– Alta rotatividade;

Os aspectos positivos foram:

– Divulgação em sites e redes sociais;

– Parcerias com universidades;

– Recursos metodológicos específicos;

– Perfis bem definidos;

– Capacitação e valorização profissional;

Com relação às estratégias sugeridas sobre a seleção de educadores, o grupo trouxe:

– Informações claras sobre as atribuições do cargo desde o início do processo seletivo;

– Desenvolver um passo a passo para inserção do educador no cotidiano;

– Realizar processos formativos dos profissionais;

– Melhorar condições de trabalho (salário, carga horária);

ORGANIZAÇÃO DA ROTINA

No que diz respeito à organização da rotina, os aspectos negativos foram:

– Diferenças de perfis e concepções de trabalho;

– Rotatividade da equipe;

– Dúvidas sobre com fazer;

– Rotina estabelecida sem considerar as singularidades das crianças;

– Prática mecanicista sem reflexão;

– Divergências entre os PIAs e a rotina;

No que diz respeito à organização da rotina, os aspectos positivos foram:

– Alinhamento na equipe;

– Participação dos acolhidos na construção da rotina;

– Momentos de escuta/supervisão;

– Construção da autonomia/co-responsabilidade;

– Estabelecimento de rotinas internas e externas ao serviço;

Com relação às estratégias sugeridas sobre a organização da rotina, o grupo trouxe:

– Estabelecê-la de acordo com as necessidades dos acolhidos;

– Identificação de recursos para a execução da mesma;

– Estabelecimento de comunicação entre todos os educadores e parceiros envolvidos;

– Ordenar prioridades;

– Contemplar atividades pedagógicas na rotina;

HISTÓRIAS PESSOAIS

No que diz respeito às histórias pessoais, os aspectos negativos foram:

– Falta de sensibilidade e exposição das crianças;

– Superproteção/ Identificação dos educadores com as crianças;

– Revitimização;

– Fragilização do educador;

– Falta de suporte técnico e de auto-conhecimento;

No que diz respeito às histórias pessoais, os aspectos positivos foram:

– O conhecimento da história possibilita melhor acolhimento da criança e adolescente;

– Empatia/ motivação;

– Relação de confiança e aproximação entre crianças e educadores;

– Identificação com o trabalho/sensibilização sobre o papel do educador;

– Novas possibilidades de atuação com as crianças e adolescentes;

Com relação às estratégias sugeridas sobre as histórias pessoais, o grupo trouxe:

– Realizar capacitação e supervisão continuada com toda equipe;

– Aprimorar a seleção de profissionais para atuação neste contexto;

– Ampliar repertório e qualidade de vida das crianças acolhidas;

– Aumentar a remuneração dos profissionais para melhorar a qualidade do trabalho com as histórias de vida;

REUNIÕES DE EQUIPE, FORMAÇÃO E SUPERVISÃO

No que diz respeito às reuniões de equipe, formação e supervisão, os aspectos negativos foram:

– Dificuldade para reunir toda equipe (carga horária);

– Encontros muito hierarquizados;

– Distanciamento de diferentes saberes;

– Descontinuidade de acordos e combinados;

No que diz respeito às reuniões de equipe, formação e supervisão, os aspectos positivos foram:

– Reuniões sistemáticas para discussões de caso;

– Formação continuada: mais conhecimento, motivação, diálogo e interação na equipe;

– Supervisão interna (equipe técnica) e externa (profissional especializado);

Com relação às estratégias sugeridas sobre as reuniões de equipe, formação e supervisão, o grupo trouxe:

– Concurso público;

– Formação horizontal;

– Banco de horas para facilitar a participação de todos;

– Capacitação para todos;

– Valorização de saberes da equipe (escuta e fala);

Ao final das apresentações dos quatro grupos, o grupo ressaltou a importância do cuidado com o cuidador como maneira de potencializar a qualidade no atendimento de crianças e adolescentes acolhidos, desde a seleção adequada de profissionais ao constante apoio e aprimoramento profissional de toda equipe. Ficou claro que existem profissionais com muita clareza e comprometimento com seus papéis profissionais, porém, em decorrência de condições precárias de trabalho, como os salários dos profissionais, e o baixo investimento em formação, capacitação e supervisão, o trabalho acaba por ficar fragilizado.

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OFICINA:  “Agressividade e Limites: Como lidar?"

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OFICINA: “Agressividade e Limites: Como lidar?"

No dia 23/05/15, foi realizada no Colméia a Oficina: “Agressividade e Limites: Um desafio para toda equipe,  com a participação dos especialistas: Raul Araújo e Mila Motomura. Raul é psicólogo e atua na garantia de direitos de crianças e adolescentes há mais de 10 anos. Mila é psicóloga de formação e atua com facilitação gráfica há mais de seis anos. Atualmente é coordenadora de facilitação gráfica na Moom.

Qual a diferença entre crianças e adolescentes? O contexto do acolhimento interfere nesta concepção?

A Oficina teve como proposta trabalhar o tema agressividade de maneira participativa e lúdica, a partir da metodologia do teatro do oprimido.

Raul propôs ao grupo uma rodada de apresentação com nome, função no serviço onde atua, e o que mais gosta e não gosta no cotidiano dos serviços. Foi uma rodada importante para se familiarizar com o perfil do grupo e validar junto a ele as interferências destas habilidades e percepções, na relação com as crianças e adolescentes acolhidos.

Na sequência, Raul pediu ao grupo para compartilhar suas concepções e especificidades sobre criança e adolescência. No que diz respeito à concepção de criança, o grupo relatou as seguintes características: dependência (necessita de proteção), época específica do desenvolvimento, espontaneidade, inocência, curiosidade... No que tange a concepção de adolescentes, o grupo trouxe: não precisam tanto dos adultos, testam limites, são mais autônomos, são contestadores, têm dificuldades em lidar com frustração e são “sexualizados”.  Após esta primeira explanação sobre os conceitos de crianças e adolescentes, Raul indagou ao grupo: As crianças e adolescentes acolhidos são diferentes? Qual é o contexto em que estão inseridas?

O grupo trouxe importantes contribuições para as discussões, à medida que foram confrontando suas concepções sobre os conceitos de crianças e adolescentes, bem como as especificidades do desenvolvimento de cada faixa etária. Além disso, a contextualização de que estas crianças e adolescentes estão acolhidos, foi dando um contorno importante para a compreensão dos mesmos como sujeitos, com suas especificidades e histórias.

Neste sentido, Raul fez uma leitura histórica sobre a concepção de crianças e adolescentes, bem como das instituições que realizavam o papel social dos serviços de acolhimento. Além do apanhado histórico sobre as diferentes concepções de crianças, adolescentes, famílias e as instituições, foram propostas ao grupo refletir sobre: De que casa estamos falando? Quais são as características dos serviços?

Os serviços de acolhimento possuem um caráter excepcional e provisório na proteção e promoção dos direitos das crianças e adolescentes, mas não é a casa onde as crianças e adolescentes viveram e gostariam de estar com suas famílias. Esta questão é fundamental considerar, pois traz importantes impactos emocionais para as crianças e adolescentes, que muitas vezes expressam sentimentos como raiva e tristeza pela agressividade. Neste sentido, Raul contextualizou a questão das regras na rotina da casa, como um grande desafio, considerando que cada criança e adolescente vem de um contexto particular de regras. Raul reforça o fato de que mesmo as crianças e adolescentes que moravam na rua possuem suas próprias regras.

Como lidar com as diferentes concepções de regras e a construção de novas, de maneira que contribuam para um bom convívio na casa? A criação de regras e estabelecimento de limites é um tem realmente desafiador para todas as equipes. Será que existe uma fórmula passível de aplicação em todos os serviços?

Raul convida o grupo a considerar todos estes aspectos presentes nas histórias das crianças e adolescentes: rupturas, violações de direitos, indefinições, incompreensões, falta de acolhimento, tristeza, raiva, entre outras emoções e possibilitar espaços de expressão e não contenção. Se considerarmos a agressividade como algo superficial de questões mais profundas, talvez seja possível apoiar as crianças e adolescentes na elaboração de suas angústias. No entanto, se a equipe não consegue reconhecer essas questões e entender que a imposição de regras é a única possibilidade de relação, certamente não contribuirá para o desenvolvimento das crianças e adolescentes neste sentido.

As regras e limites são importantes para todas as crianças e adolescentes, e no contexto do acolhimento, a construção das regras e limites, assim como outras construções de acordos, devem ser realizadas de maneira coletiva, com a participação de todos.

Aquecimento para as cenas...

Raul propôs ao grupo que pensassem em algum caso desafiador para iniciar o aquecimento para o teatro do oprimido. Foram realizadas atividades de identificação e reprodução de gestos relativos às cenas de agressividade que foram vivenciadas por eles. Ao final do aquecimento, 8 grupos foram divididos para representarem uma cena. Após a representação, o grupo compartilhou o episódio e deu um nome para ela. As cenas intituladas foram: Raízes, Agressividade, Flexibilizar o regulamento, Infância frustrada, De quem é a culpa?; Sem saída; Qual é o meu lugar; Eu existo.

De um modo geral, as cenas e expressaram de maneira impactante experiências reais vividas pelas equipes. Foi um importante momento de revisão de possibilidades de percepção, compreensão e intervenção para as equipes.

Ao final das apresentações, Raul realizou uma plenária de fechamento sobre as experiências vividas e as possibilidades de novos olhares e atuações diante das expressões de agressividade das crianças e adolescentes acolhidos.

Durante todo o encontro, Mila produziu painéis gráficos com os conteúdos trazidos pelo grupo. O último painel continha uma frase que convida a todos os participantes a compreenderem a agressividade de maneira mais ampla: “ Do rio que tudo arrasta o chamam de violento...Mas ninguém chama de violentas as margens que o aprisionam”. (Bertold Brecht).

Para assistir aos melhores momentos da Oficina, acesse o link:

https://www.youtube.com/watch?v=OD4Z5hh4yds&list=PLnXe9VZ1ye9wbBRi1_g4aJ8saB19NEA0K

 

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