Nos dia 9, 10 e 11 de Novembro, foi realizado o III Seminário Internacional de Qualidade nos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes na Universidade Anhembi Morumbi, sob a organização do NECA, no qual foi realizada uma Oficina intitulada: “Todo cuidador deve receber apoio, atenção, formação e ajuda em sua tarefa do bem cuidar” pelo Instituto Fazendo História. A equipe de formação do Instituto, composta pela coordenadora e técnica do Programa, Tatiana Barile e Fernanda Cocitta foi quem realizou a Oficina.
Tatiana Barile iniciou a Oficina, convidando os participantes a realizarem uma dinâmica de apresentação para mapeamento do grupo. Na ocasião havia 40 participantes, tanto homens quanto mulheres, de cargos bem variados (educadores, técnicos, gestores e presidentes de instituições mantenedoras e SAICAS), com formações variáveis nas áreas humanas e sociais (prevalência por assistentes sociais, psicólogos e pedagogos). Foram identificados participantes oriundos de diversas regiões do país, compondo 9 Estados e mais de 20 Municípios, além de estrangeiros.
Após o primeiro momento de identificação e integração, o grupo participou de uma atividade de design thinking, na qual cada um contribuía com uma palavra que representasse as seguintes questões norteadoras:
– O que é cuidado?
– O que é cuidado com as crianças e adolescentes?
– O que é cuidado com os educadores?
A partir destas questões e das contribuições do grupo, formou-se um grande painel no qual as palavras foram agrupadas, formando um grande diagnóstico sobre o tema cuidado. No que diz respeito ao cuidado, ficou claro que cuidado passa pelo afeto, amor, carinho, estar atento ao outro, respeitar o outro, oferecer suporte, empatia, proteção, singularidade, liberdade, honestidade, encontro e limites. Dentre estas palavras as que tiveram grande destaque foram o amor e atenção, que apareceram muitas vezes.
No que diz respeito aos cuidados com crianças e adolescentes, o grupo trouxe: segurança, compromisso, confiança, direcionamento, compreensão, acolhimento, garantia de direitos, disponibilidade, individualidade, atenção, olhar, colo, desafio, amor, respeito, acolher sem estigmatizar, proteção e referência. Nesta categoria, aspalavras que apareceram com maior frequência foram: proteção, escuta e respeito.
Na categoria de cuidados com educadores, o grupo entende que sentem-se cuidados quando: são escutados, tem o suporte técnico para o acolhimento adequado, acolhidos e amparados pela equipe técnica e coordenação em seus desafios (suporte), informação e conhecimento, quando são respeitados, possuem apoio, direcionamento, amor, olhar, segurança, formação continuada, capacitação e escuta sendo estas, as palavras que apresentaram grande representatividade nesta categoria.
Após a realização desta atividade inicial, o grupo foi convidado a seguir na Oficina através de 4 grupos que pudessem discutir 4 temas, a partir de aspectos positivos negativos e possíveis estratégias, através da metodologia de world café, na qual todos os participantes teriam a possibilidade de contribuir com todos os temas. Os quatro temas discutido foram:
– Seleção de educadores;
– Organização da rotina;
– Histórias pessoais;
– Reuniões de equipe, formação e supervisão;
SELEÇÃO DE EDUCADORES
No que diz respeito à seleção de educadores, os aspectos negativos foram:
– Falta de profissionais qualificados;
– Falta de critérios na seleção (muitas indicações sem perfil);
– Baixos salários;
– Ausência de plano de carreira;
– Alta rotatividade;
Os aspectos positivos foram:
– Divulgação em sites e redes sociais;
– Parcerias com universidades;
– Recursos metodológicos específicos;
– Perfis bem definidos;
– Capacitação e valorização profissional;
Com relação às estratégias sugeridas sobre a seleção de educadores, o grupo trouxe:
– Informações claras sobre as atribuições do cargo desde o início do processo seletivo;
– Desenvolver um passo a passo para inserção do educador no cotidiano;
– Realizar processos formativos dos profissionais;
– Melhorar condições de trabalho (salário, carga horária);
ORGANIZAÇÃO DA ROTINA
No que diz respeito à organização da rotina, os aspectos negativos foram:
– Diferenças de perfis e concepções de trabalho;
– Rotatividade da equipe;
– Dúvidas sobre com fazer;
– Rotina estabelecida sem considerar as singularidades das crianças;
– Prática mecanicista sem reflexão;
– Divergências entre os PIAs e a rotina;
No que diz respeito à organização da rotina, os aspectos positivos foram:
– Alinhamento na equipe;
– Participação dos acolhidos na construção da rotina;
– Momentos de escuta/supervisão;
– Construção da autonomia/co-responsabilidade;
– Estabelecimento de rotinas internas e externas ao serviço;
Com relação às estratégias sugeridas sobre a organização da rotina, o grupo trouxe:
– Estabelecê-la de acordo com as necessidades dos acolhidos;
– Identificação de recursos para a execução da mesma;
– Estabelecimento de comunicação entre todos os educadores e parceiros envolvidos;
– Ordenar prioridades;
– Contemplar atividades pedagógicas na rotina;
HISTÓRIAS PESSOAIS
No que diz respeito às histórias pessoais, os aspectos negativos foram:
– Falta de sensibilidade e exposição das crianças;
– Superproteção/ Identificação dos educadores com as crianças;
– Revitimização;
– Fragilização do educador;
– Falta de suporte técnico e de auto-conhecimento;
No que diz respeito às histórias pessoais, os aspectos positivos foram:
– O conhecimento da história possibilita melhor acolhimento da criança e adolescente;
– Empatia/ motivação;
– Relação de confiança e aproximação entre crianças e educadores;
– Identificação com o trabalho/sensibilização sobre o papel do educador;
– Novas possibilidades de atuação com as crianças e adolescentes;
Com relação às estratégias sugeridas sobre as histórias pessoais, o grupo trouxe:
– Realizar capacitação e supervisão continuada com toda equipe;
– Aprimorar a seleção de profissionais para atuação neste contexto;
– Ampliar repertório e qualidade de vida das crianças acolhidas;
– Aumentar a remuneração dos profissionais para melhorar a qualidade do trabalho com as histórias de vida;
REUNIÕES DE EQUIPE, FORMAÇÃO E SUPERVISÃO
No que diz respeito às reuniões de equipe, formação e supervisão, os aspectos negativos foram:
– Dificuldade para reunir toda equipe (carga horária);
– Encontros muito hierarquizados;
– Distanciamento de diferentes saberes;
– Descontinuidade de acordos e combinados;
No que diz respeito às reuniões de equipe, formação e supervisão, os aspectos positivos foram:
– Reuniões sistemáticas para discussões de caso;
– Formação continuada: mais conhecimento, motivação, diálogo e interação na equipe;
– Supervisão interna (equipe técnica) e externa (profissional especializado);
Com relação às estratégias sugeridas sobre as reuniões de equipe, formação e supervisão, o grupo trouxe:
– Concurso público;
– Formação horizontal;
– Banco de horas para facilitar a participação de todos;
– Capacitação para todos;
– Valorização de saberes da equipe (escuta e fala);
Ao final das apresentações dos quatro grupos, o grupo ressaltou a importância do cuidado com o cuidador como maneira de potencializar a qualidade no atendimento de crianças e adolescentes acolhidos, desde a seleção adequada de profissionais ao constante apoio e aprimoramento profissional de toda equipe. Ficou claro que existem profissionais com muita clareza e comprometimento com seus papéis profissionais, porém, em decorrência de condições precárias de trabalho, como os salários dos profissionais, e o baixo investimento em formação, capacitação e supervisão, o trabalho acaba por ficar fragilizado.