A pandemia do novo Corona vírus trouxe mudanças radicais nos nossos modos de vida, a rotina de todos mudou, e o modo de trabalhar e circular pela cidade também vem se adaptando a essa nova realidade de pandemia e isolamento social. Mas e os serviços de acolhimento para crianças e adolescentes? Como é possível continuar as ações  nesse momento?

Desde o inicio do isolamento, estamos nos esforçando para construir novas estratégias que garantam a continuidade das ações do Serviço de Acolhimento Familiar executado pelo Instituto Fazendo História. Tivemos que nos adequar ao novo contexto para proteger os trabalhadores e contribuir para a saúde coletiva! E para darmos continuidade ao nosso serviço com o cuidado necessário, as ferramentas virtuais vêm sendo de extrema importância.

Com as visitas suspensas após a Portaria emitida pela Prefeitura de São Paulo, a equipe técnica e a coordenação do serviço optaram por estabelecer uma rotina semanal de vídeo-chamadas com as famílias acolhedoras que estão acolhendo. Assim, conseguimos, mesmo que à distância, acompanhar o desenvolvimento da criança e apoiar a família que realiza o acolhimento.

Nesse período, acolhemos quatro bebês, a prefeitura segue pedindo vaga de acolhimento na modalidade familiar, acreditando que é ainda mais importante nesse momento acolhermos os pequenos em ambiente individualizado. Principalmente os bebês recém nascidos, prematuros, ou crianças com alguma questão de saúde, que se enquadram como grupo de risco.

Os encontros em grupo com todas as famílias acolhedoras que aconteciam quinzenalmente, continuam acontecendo, agora de forma virtual, e por pedido das próprias famílias, estamos fazendo encontros semanais. Entendemos esse momento como um espaço de compartilhamento entre as famílias onde diferentes demandas são trabalhadas em grupo. Percebemos como é importante manter o grupo unido e conectado, mesmo á distância!

Os encontros em grupo, se dividem em encontros abertos, para discussão de casos e sobre assuntos que as famílias querem trazer, e encontros temáticos, onde um especialista fala sobre algum tema específico. Nesse período de isolamento, tivemos a participação de uma médica infectologista e um enfermeiro (ambos são família acolhedora) falando sobre os cuidados devido a pandemia. E outro sobre adoção ilegal, com a participação de uma profissional do Tribunal de Justiça.

O encontro aberto, tem proporcionado discussões sobre como o cenário atual impacta de forma específica cada família acolhedora, e as crianças acolhidas. A falta da creche, a convivência 24h por dia, as incertezas sobre o futuro do processo e a preocupação em relação a saúde de todos são temas recorrentes nos encontros.  

As reuniões entre equipe técnica e coordenação seguem acontecendo por plataformas virtuais, assim como a supervisão externa da equipe, reunião geral do  Instituto, reunião de dupla técnica, discussões de casos, etc.

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O trabalho com as famílias de origem das crianças acolhidas também tem sido realizado de forma remota, através de contatos telefônicos, chamadas de vídeo, mensagens por whatsapp, envio de cartas, fotos e também reuniões com os serviços da rede de assistência e saúde. Porém, a maior dificuldade é a localização de algumas mães que estão em situação de rua e não são acompanhadas por nenhum Serviço da rede, nesses casos é necessária a busca ativa no território, o que, nesse momento, não é possível. A solução que encontramos foi solicitar o auxílio das equipes de abordagem de rua para ajudar no acompanhamento e localização das famílias de origem.

Mesmo em meio a situação de isolamento social, decidimos realizar palestras online sobre o serviço para mobilizar novas famílias acolhedoras e divulgar o nosso trabalho. As palestras de apresentação têm acontecido pela plataforma Zoom após inscrição dos interessados. O Instituto tem realizado divulgações via redes sociais e tem recebido um número satisfatório de interessados. As palestras têm contado com a participação de famílias acolhedoras que respondem dúvidas no final do encontro online e dão seus depoimentos.  As redes sociais tem se mostrado um canal essencial de comunicação e troca com o mundo, em abril fizemos uma live pelo instagram contando sobre o serviço e entrevistando uma família acolhedora, foi uma estratégia interessante para falar sobre o serviço para um publico maior!

Infelizmente são tempos difíceis para todos. Estamos atravessando um momento incerto, em que precisamos evitar o contato humano, desafio enorme para os Serviços de Acolhimento que trabalham com contato o tempo todo. Ainda não sabemos quanto tempo isto irá durar, mas os Serviços não podem parar.

Nesse último mês aprendemos que não podemos controlar os eventos que acontecem mas podemos decidir não paralisar, aprendemos que o isolamento social é apenas físico, nos manter unidos e generosos ao outro é a melhor estratégia e o melhor combustível para continuar com o nosso trabalho.

Logo tudo isto será passado e fará parte de uma história vivida por essa geração. Que façamos dos dias difíceis um aprendizado sobre a vida. Porque vai passar, e o compromisso com as crianças que acolhemos vai continuar.

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